Maria Aparecida de Souza: Mulher devota

CIDA

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No dia 30 de maio de 2016, a pequena Anny comemorava seu terceiro aniversário. Vestida de Minnie, a garotinha já estava convencida de que o primeiro pedaço de bolo deveria ser entregue à mãe. Os tios e amigos presentes na festa cochichavam no ouvido dela para que não se esquecesse. Mas, por se tratar de uma criança, Anny não se deixou levar e agiu com o coração. Para surpresa de todos, o primeiro pedaço foi entregue à avó Cida, deixando claro o tamanho do seu afeto por ela.

Maria Aparecida de Souza era mais conhecida como irmã Cida em sua comunidade religiosa. Frequentava quase que diariamente a igreja Assembléia de Deus, da qual era membro. Era amada não só pelos três netos, mas também pelos filhos, vizinhos e amigos, pois ajudava a todos sem medir esforços. Se precisassem de um ombro amigo, lá estava ela disposta a ouvir. Se precisassem de companhia, podiam contar com ela. Até ajuda em afazeres domésticos, como cuidar dos netos, ela atendia prontamente.

Quem não a conhecia, bastava trocar algumas palavras para começar a admirá-la. Sempre falava em tons baixos, nem mesmo em momentos de discussões conseguia se alterar. Utilizava a serenidade na voz para cultuar louvores a Deus. Outra característica que todos admiravam era seu longo cabelo. Mantinha-o assim não só pela doutrina da igreja, mas por gosto mesmo. Por nada na vida ela permitia cortar as madeixas.

Mas, nem sempre Cida foi religiosa, passou por momentos difíceis, de solidão.

Casada e mãe de três filhos, ela viveu por alguns anos na cidade de Puente Kyha no Paraguai. Foram para lá devido uma oportunidade de trabalho feita ao marido, que seria caminhoneiro. A filha Claudia Mara recorda que, com o emprego,  conseguiram prosperar em pouco tempo e, depois de garantir certa estabilidade financeira, vieram novamente para o Brasil.

Na pequena cidade do interior do Paraná, Guaíra, o pai lhes proporcionava boa vida e até empregada doméstica chegaram a ter. O dinheiro trouxe também decepções. Mulheres começaram a procurá-lo e Cida descobriu que não era a única que desfrutava dos lucros do marido. Mesmo revoltada com as traições, ela ainda aguentou algum tempo ao lado dele, pensando na educação dos filhos pequenos. No entanto, o marido acabou os deixando para viver com outra.

Como não poderia deixar de ser, Cida se viu obrigada a trabalhar para sustentar os filhos. Sem muitos estudos e sem nenhuma experiência, passou de patroa à empregada, indo trabalhar em casa de família. Posteriormente cuidou de um casal de idosos. A senhora de idade avançada e diversos problemas de saúde acabou morrendo deixando apenas o marido aos cuidados dela. Os filhos dele queriam que ela se casasse com o viúvo. Gostavam tanto de Cida, que achavam que, assim, estariam matando dois coelhos com uma só cajadada. Ela cuidaria do pai e, ao mesmo tempo, eles lhe dariam estabilidade financeira.  Porém, a amizade com a falecida e a religiosidade não a deixava tomar tal decisão.

Nem sempre Cida foi religiosa. Passou por momentos difíceis, de solidão. O1111s filhos cresceram e cada um tomou seu rumo. Deixaram Guaíra para viver em Curitiba em busca de melhores condições financeiras. Sozinha e revoltada com o passado, Cida  abandonou a religião. Pensava que longe da doutrina da igreja talvez encontrasse um companheiro para dividir as tristezas e alegrias. Não encontrou. Sem perspectivas, começou a frequentar festas e locais propícios ao álcool e aos poucos foi se envolvendo até se ver entregue ao vício do alcoolismo.

De longe, os filhos acompanhavam o sofrimento da mãe, e ouviam relatos de amigos e vizinhos, dizendo que muitas vezes a mãe precisou de ajuda para retornar para casa por conta da embriaguez. Em grupo, eles começaram a intervir com palavras de motivação.  Recuperou-se e veio viver junto aos filhos.

Em Curitiba realizou muitos trabalhos de ação social em nome da religião. Visitou hospitais e ajudou os enfermos. Todos os dias, irmã Cida ia até a igreja, cuidava da limpeza,
estudava a bíblia e cantava os cânticos da Harpa Cristã. Um dos seus preferidos era o número 545, “Porque Ele vive”, que em determinada parte diz:

“E quando, enfim, chegar a hora

Em que a morte enfrentarei

Sem medo, então, terei vitória:

Irei à Glória, ao meu Jesus que vivo está”

E a hora de Cida chegou. No dia 28 de setembro de 2016, vítima de um câncer no colo do útero, ela morreu. Deixou três filhos e três netos. Descobriu a doença em estado avançado, evitando que as sessões de quimioterapia a obrigasse a cortar os longos cabelos que tanto amava. “Pelo menos, esse desgosto ela não teve”, diz a filha Cláudia.

Por Sirlene Araújo

2 comentários sobre “Maria Aparecida de Souza: Mulher devota

  1. Nóssa o que posso dizer! Só chorar no momento , . A sirlene relatou tudo sobre éssa ,guerreira, mãe, todos os atributos de luta , fé, perseverança ; éssa foi a irmã cida. “Minha mamãe do meu coração…” (obrigado sirlene ).

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